Como prevenir trapalhadas

Trapalhadas e suas consequências chatas

Trapalhadas podem ter diferentes tipos de consequências indesejáveis. Um tipo são as consequências emocionais, como constrangimento e vergonha, que você também deve achar bastante chatas. Outro possível efeito emocional é irritação, que você deve concordar comigo que não é uma emoção que também contribui para gostarmos mais de viver.

Uma trapalhada também pode ter consequências práticas. Quando apenas derrubamos algo, é mais aceitável. Mas por vezes podemos quebrar alguma coisa de vidro temperado, que se parte em “milhares” de pedaços, se espalha de um jeito muito chato de limpar e que não podemos ignorar, porque alguém pode se cortar. Mas estou em dúvida se derrubar pó de café é mais chato!

Podemos também quebrar algo que muito valor para nós ou, talvez pior, para outra pessoa. Neste caso podemos ter uma combinação de consequências:

  • consequência emocionais para nós
  • consequências práticas
  • consequências emocionais para outra pessoa
  • outras consequências emocionais em nós em função das consequências emocionais que provocamos na outra pessoa.

Em um extremo, uma trapalhada pode prejudicar ou mesmo tirar uma vida. Por exemplo, há casos de pacientes que receberam medicamento errado no hospital. Os medicamentos genéricos têm uma embalagem padronizada, que conforme o caso têm apenas uma parte textual diferente. Isso torna mais provável que uma enfermeira ou técnica de enfermagem não plenamente atenta, presente, pegue um remédio errado.

Eventualmente alguém têm várias experiências de cometer trapalhadas e conclui algo como “Sou trapalhão” ou, com mais intensidade, “Sou um desastre”. Uma nova experiência do mesmo tipo então reforça a conclusão “lógica”. O verbo ser pode ser usado para descrever ou definir; usado para autodefinição, ele produz um efeito limitante na personalidade.

Então, se preparar para evitar trapalhadas é como fazer seguro de carro: não queremos um acidente, pode nunca acontecer, mas pode ser decisivo em certas ocasiões.

Este capítulo trabalha a prevenção de alguns tipos comuns de trapalhadas e também uma opção para o que você pode fazer quando acontecer a próxima.

Riscos

De madrugada, acordo com sede, vou pegar o copo no criado sem olhar, bato nele, ele vira e derrama quase toda a água.

Depois, fui investigar por que isso tinha acontecido, e descobri algo bem interessante: a possibilidade de eu derrubar o copo não tinha me passado pela mente. Testei isso repetindo o gesto: quando essa possibilidade está presente, automaticamente eu reduzo a velocidade e tomo mais cuidado.

Essa possibilidade é tecnicamente chamada de risco. Todos nós já pensamos em riscos. Por exemplo, por que você muda seu jeito de caminhar em chão molhado? Para prevenir escorregar e cair, possivelmente se machucando; o risco é de fato um fluxo.

Ao fazer uma curva mais fechada, você reduz a velocidade, por quê? Claro, para não derrapar, possivelmente capotar e possíveis consequências.

E por que você segura um bebê com todos os cuidados possíveis?

O ponto então não é aprender a pensar em riscos, mas sim aprimorar o pensamento em riscos quando não o fazemos e isso for conveniente.

Outro exemplo vem de um colega de trabalho, que bateu no carro da frente em um acesso a uma avenida. Ele contou que o carro da frente tinha se movimentado, nesse momento ele se abaixou para pegar algo no assoalho do carro, e não viu que o outro carro tinha parado. O colega não considerou o risco de o carro da frente parar; se essa possibilidade tivesse lhe ocorrido, ele poderia até se abaixar, mas sem tirar os olhos da frente.

Outra forma de expressar isso é o que o colega não sentiu medo, o medo específico de o outro carro parar. O medo tem essa característica de alertar para ameaças, perigos, enfim, coisas que tiram nossos planos dos “trilhos” e que assim contribuem para melhorar os planos. Planos com mais qualidade certamente contribuem para gostarmos mais de viver.

Bem, os medos que contribuem são aqueles racionais, fundamentados na situação. Medos como de escuro e do desconhecido não têm essa conexão.

Também medos originados de autodefinições como “Sou medroso” não me parecem racionais. O ser humano é tão capaz que pode até sentir medo de algo que imagina… Tais medos não contribuem para gostarmos mais de viver.

Note que a principal razão para tomar esse tipo de providências é mitigar riscos, mas isso é muito pessoal. Riscos não são acontecimentos, são possibilidades de acontecimentos. Podem nunca acontecer, podem acontecer e não ter consequências importantes e podem acontecer e resultarem em consequências chatas, como quebrar algo de valor para você ou para outra pessoa, possivelmente com impactos financeiros.

Um exemplo deste último tipo aconteceu comigo. Estava sentado no chão, segurando o HD externo de uma amiga, quando ele caiu, de uma altura de no máximo uns 15 cm. Pois ele estragou, a reposição me custou algumas centenas de reais, a recuperação de dados mais algumas centenas, e nem foi possível recuperar tudo.(😫😢)

Depois de acontecer

O canal Charisma on Command do YouTube (versão em português Carisma no Comando) conta em um vídeo que as pessoas, quando fazemos alguma trapalhada, esperam nossa reação antes de reagir; se rimos, elas riem, se nos envergonhamos elas nos julgam.

Ninguém está imune a cometer uma trapalhada; afinal, basta meio segundo de distração ou uma situação ou circunstância nova para a qual não estamos preparados e não conseguimos improvisar uma resposta a tempo.

Uma possível direção para quando você cometer uma trapalhada pública é fazer um comentário humorístico. Por exemplo:

– Mais uma trapalhada para a minha coleção!

– Mais uma para o meu currículo!

– De novo, não!

– Acho que esta foi uma das melhores trapalhadas que consegui na vida!

– Com essa acho que bati o recorde de constrangimento!

Claro que o uso dessa opção depende das consequências. Se alguém trocar o remédio do paciente ou o tipo de sangue, como aconteceu com meu avô materno, nenhuma justificativa ou resposta me parece aceitável.

O segundo melhor

Um dia, alguém me deu algo para cheirar, gostei e me veio não sei de onde a inspiração para comentar:

– Esse é o segundo melhor cheiro do mundo!

Então alguém perguntou:

– E qual é o primeiro?

Passei a usar isso como um tipo de bordão, e notei que muitas vezes acontecia de alguém perguntar qual era o primeiro. Era uma frase meio que hipnótica. Fui imitado: um dia recebi um cartão de Dia dos Pais contendo: “Você é o segundo melhor pai do mundo!”…

Acredito que o efeito dessa frase nas pessoas é desviar sua atenção/foco do fato e remeter seu pensamento para completar o entendimento, quem seria o primeiro.

Em uma trapalhada, esse bordão pode ser usado para a autodepreciação:

– Sou o segundo maior trapalhão do mundo!

– Esta foi minha segunda melhor trapalhada!

Se ninguém reagir:

– Esta foi a minha segunda pior trapalhada na vida!

Tem também o fator novidade: o impacto em que ouve o bordão pela primeira vez será maior.

Desviando o pensamento

A ideia de desviar o foco do “público” tem outras aplicações. Por exemplo:

– Isto não é nada comparado com as coisas certas que fiz.

– Quem nunca cometeu uma trapalhada que atire a primeira pedra!

Só não me pergunte se isso vai dar certo. Eu não dou conselhos, apenas apresento possibilidades. Às vezes, ideias apenas, nem sei se são possibilidades.

Atitude com as trapalhadas dos outros

Uma colega de trabalho treinava karatê. Um dia, teve um evento social na academia, ela bebeu demais e passou mal. Sentindo que tinha dado vexame, no outro dia ela foi se desculpar. Não deixaram; segundo ela falou, na etiqueta japonesa, essas coisas não são absolutamente comentadas, as pessoas agem como se não tivesse acontecido.

Que contraste com o que já observei por aqui: pessoas contam casos constrangedores de amigos e se divertem com isso. Não estou afirmando que isso é errado; apenas acho que é apropriado quando o próprio autor da trapalhada se diverte.

Pense em dois possíveis cenários depois que você cometer uma trapalhada: saber que será objeto de gozação, de “diversão” pelos “amigos” ou que ninguém irá comentar. Assim, e em geral, acho que imitar os japoneses tende a ser a melhor opção. Deixamos para o autor iniciar comentários – se quiser.

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